sábado, 9 de junho de 2007

Vozes do Quilombo


O meu sangue é do navio negreiro
Nessa terra não cheguei de passagem
Pareço diferente, mas sou brasileiro
Olhe nos meu olhos, não sou uma miragem...

Pensaram que sou bandido
Trataram-me como um ninguém
Um vagabundo, um perdido
Ou o resto pedindo um vintém

Meu valor moral parece que tem preço
Julgam-me por não ser um semelhante
Dizem que com um animal pareço
Uma maldição, quem garante?

Andar nas ruas já não é seguro
Estou com medo da ditadura racial
A qualquer momento ser jogado contra o muro
Ser assassinado por motivo irracional

Para eles sou diferente
O que tem por dentro de mim já não importa
Passo longe de ser gente
Sou mantido longe de sua porta

Sou sujeira debaixo do tapete
Nada mais que um inconveniente
Um tanto quanto indolente
Na mira de um simples estilete

Estão loucos para se livrar de mim
Será que cheiro mal?
Sem me conhecer me rotulam imoral
Como é que se vive assim?

Vocês ainda vão enxergar
A beleza do nosso gingar

-Bruno e Tico-